- A mentalidade de um
Grande
Para este reínicio nas análises, olhei para a realidade em
Portugal no que toca aos guarda-redes (como de costume) e constatei que os 3
grandes desconfiam dos jogadores que são importados, e apostam quando têm
créditos firmados dentro da nossa Liga Principal. Salvo raras excepções, é esta
a mentalidade no topo do Futebol Português quando a questão colocada é dos
guardiões. Passemos a explicitar de agora em diante.
Foquemo-nos por exemplo no Sporting. Mentalidade conservadora e numa perspectiva de
longo-prazo. Assumindo que Rui Patricio como vindo do mercado interno (não de
outro clube, mas da própria formação do clube de Alvalade) e juntamente com
Boeck, já estão no clube há muito tempo. É o clube que menos altera os seus
dois homens de confiança para a baliza, algo que não se aplica nos seus dois
rivais. Desde Stojkovic, que o clube de Alvalade não contrata ninguém de um
clube fora de Portugal. Pelo menos de forma marcante, estando a excluir por
exemplo a contratação de Hildebrand que pouco (ou nada) jogou em Portugal. A
experiência pelo mercado em Portugal sempre foi bastante produtiva, relembrando
por exemplo Nelson e Tiago que tanto destaque tiveram no clube. Estamos a
assumir uma base temporal curta, por exemplo na última década. Qual a razão de
tanto conservadorismo no Sporting? São dois jogadores bastante amados no seio
leonino, um por reverem em Patricio um futuro Damas, e outro que vive o clube
como poucos, mesmo tendo poucos minutos por época. Depois para 3ºguarda-redes o Sporting também
já apostou em Ventura e Ricardo Batista por exemplo, e ainda para um longo
reinado a titular Ricardo, que brilhou no Boavista. Apesar disto, Bruno de
Carvalho já “ameaçou” romper com este ideal no inicio da temporada, quando
esteve quase a contratar Kapino, que acabou por assinar pelo Mainz. Mas não
passou disso mesmo – uma ameaça.
Passando para algo mais extremo em termos de mudanças na
baliza, falamos do Benfica. Chegam-me à cabeça nomes, como por exemplo, Quim,
Moreira, Moretto, dois Julio Cesar, Roberto, Mika, Artur, Oblak, Paulo Lopes
entre outros. Uns com mais impacto que outros, e alguns que de tanto marcarem o
clube serão inesqueciveis, seja pelo bom ou mau. Olhando para tais nomes,
podemos tirar já uma conclusão fácil: Apenas dois foram contratações do
estrangeiro, sendo que as restante foram todas no mercado nacional (assumindo
Oblak como algo trabalhado em Portugal). Essas duas contratações tiveram impactos
extremos no Benfica. Julio Cesar (actualmente) está a ter uma marca positiva em
Portugal e Roberto nem tanto. Dos restantes, Artur foi mal amado apesar de
uma/duas épocas fantásticas após a saída do Braga, Moretto brilhou em Portugal
mas no Benfica não teve uma passagem brilhante tal como o outro Julio Cesar
(Belenenses) , Mika (Leiria), como ainda Paulo Lopes. Aliás, Mika foi
contratado depois de ser grande destaque do Mundial sub20 em que Portugal foi
derrotado na final frente ao Brasil, tendo sido mesmo considerado o melhor
guarda-redes da competição. Quim foi campeão e adorado no Benfica, e Moreira
como produto da formação igualmente idolatrado era. Quim não teve uma saída pacífica do clube, e
depois de si apenas com Oblak o Benfica conseguiu ser campeão. Foi este o
primeiro guarda-redes estrangeiro a ser campeão pelo Benfica, juntamente com
Artur. Só isto pode logo induzir toda a história do Benfica no guarda-redes
português, que tem sido contrariada nos últimos anos. Fruto dos fundos ou não,
é algo dificil de explicar. O mercado nacional deixou de ser suficiente para
uma equipa bem recheada de talento, e importar de outros países é sempre mais
fácil. Tanto que os nomes apontados para a baliza do Benfica no inicio da
época, tinham em comum o facto de não estarem em Portugal. Isto diz por si só
muito...
Fica a faltar um rival, e igualmente instável mas desta vez
para as soluções para a titularidade de Helton, que chegou ao Porto depois de
brilhar no Leiria. Desde então que o Porto normalmente aposta no mercado
inteiro para oferecer soluções crediveis a Helton. Bracalli (Nacional), Beto
(Leixões), Kieszek (Braga), Fabiano (Olhanense), Ricardo (Académica) entre outros. O que têm em comum? O que está
explicitado no título desta crónica. É o clube que mais olha para o mercado
nacional para compor a baliza, mas nunca para uma titularidade. Sendo que
Helton costumava ser dono da baliza, poucos ofereciam valências para passar o
capitão. Apenas Beto, e esse nunca foi bem recebido por uma parte dos adeptos.
Podemos considerar alguns movimentos recentes como de rompimento com esta
abordagem, como por exemplo Bolat, Andrés Fernandez e Gudino. Todos, excepto o
ultimo, tiveram pouco destaque nos dragões e provaram que ir ao estrangeiro
para buscar 2º/3º guarda-redes não resultou. Já Gudino é outro assunto, mas não
é para agora...
Em suma, os clubes grandes portugueses preferem testar o
mercado nacional e depois de mostrarem valia no nosso campeonato é que
conseguem admitir que tem qualidade e potencial para estar num grande. Precisam
de brilhar nos clubes ditos mais “pequenos” para oferecer esta garantia. Caso
contrário, simplesmente não olham para eles. E já passou o tempo, que olhavam
para estes guarda-redes e colocavam na alta roda de imediato logo após a
contratação. Sporting não o fez, Porto fez há muito tempo com Helton e
recentemente foi “obrigado” a lançar às feras Fabiano, e Benfica aventurou-se
com Artur e Oblak, este último depois de multiplos empréstimos.
Ou seja, o ciclo é o mesmo do costume. Os pequenos formam e
mostram aos grandes os seus guarda-redes e estes depois contratam e adaptam-nos
às suas exigências. Estes exploram mercados alternativos e cada vez têm tido
mais sucesso. Seja em 2ºligas no Brasil, em Portugal,o que seja. Têm sabido
trabalhar o jogador e potenciar.
Com ou sem sucesso, a mentalidade ainda é de muito
conservadorismo quando se fala num guarda-redes. Preferem ir ao mercado
nacional do que contratar fora, apesar da tendência estar-se a alterar
recentemente. Apesar da muita qualidade que existe na 1ºLiga e até 2ºLiga
portuguesas, os grandes nunca olharão de momento para alguém que brilhe nestes
campeonatos, como sendo um futuro titular, seja a curto ou longo prazo. Isto
talvez pelos muitos interesses à volta do Futebol, mas é uma tendência que já
deu frutos, e que será dificil repetir-se. Para bem do Futebol português e do
futuro da baliza portuguesa, era bom que a tendência fosse contrariada. Mas até
lá, a mentalidade terá de mudar....
- Última Barreira