Mundial'14

GRUPO A ( Brasil, México, Croácia, Camarões)

“SÃO BONS, MAS SABEM A POUCO” (Brasil, 7 Abril, 2014)

É a descrição que encontro para esta selecção. Uma equipa com um núcleo de jogadores fantásticos e não consegue ter um guarda-redes que seja marcante no futebol mundial. Não é que sejam de certo modo maus, muito pelo contrário, mas para os pergaminhos duma selecção candidata à vitória final, acaba por ser pouco. Brasil é conhecido pela classe e o requinte técnico, e quando ouvimos o nome do país associamos logo “Show de bola”. Vemos sempre grandes jogadores a sair da formação canarinha, mas guarda-redes é muito raro saírem de grande qualidade. Talvez pelo processo evolutivo no país se dedicar mais aos avançados do que aos guarda-redes, até pela tradição e qualidade dos seus jogadores. Mas em nomes para a baliza brasileira, em anos passados, vem-nos à cabeça logo Taffarel e Dida. Bons guarda-redes, mas que lhes faltava algo mais até pelos jogadores que tinham na frente, que eram dos melhores disponíveis no mundo do Futebol…

Já todos conhecemos o seleccionador nacional, Felipão e como é teimoso nas suas decisões e como é fiel aos seus princípios. Assim, selecionou um guarda-redes para a titularidade e nunca abdicou nele mesmo quando não tinha futuro definido no clube. Falo de Julio Cesar, que possivelmente irá fazer a sua ultima grande competição da carreira.

Julio Cesar, apesar da sua qualidade como guarda-redes, nunca mais se conseguiu impor depois da saída do Inter de Milão e desde então a sua carreira nunca mais estabilizou a nível de clubes. Andou pelo QPR e agora joga nos EUA. É um jogador que com Scolari, parece ter ganho nova vida e alma, e esteve brilhante por exemplo na recente conquista da Taça das Confederações onde foi preponderante. Vai ser aposta pela consistência e experiência que mais nenhum apresenta no país, e para sua despedida, nada melhor que um Mundial em sua “casa”.

Os outros guarda-redes por nós selecionados são Jefferson (Botafogo) e Diego Alves (Valência). Mais dois jogadores com muita qualidade técnica principalmente, e que são juntamente com J.César, os melhores do país. O primeiro é o futuro da selecção. Um jogador adorado no país e que se tem revelado época após época pela sua qualidade técnica e consistência. Já o segundo, apesar de não se conseguir afirmar em definitivo no Valência, até pela forte concorrência de Guaita, tem também a experiência em campeonatos muito mais competitivos e ter experimentado outros níveis de pressão que Jefferson não consegue no Brasileirão. Têm ambos a vantagem também de serem "jovens" e com muito para dar à selecção ainda.

A estes poderia acrescentar Rafael (Nápoles) que neste momento enfrenta uma grave lesão e também Victor, mais um guarda-redes promissores.

Em suma, o Brasil está bem servido para a Baliza. Consegue apresentar três guarda-redes com histórias e carreiras distintas mas com qualidade para assumir a titularidade a qualquer momento. Têm características técnicas muito idênticas também. Não será por aqui que o Brasil irá falhar com toda a certeza. 


- Gonçalo Xavier


"FÁBRICA DE SPLIT" 
(Croácia, 9 Abril de 2014)

Saiu-lhes a fava no grupo (Brasil) mas são os principais candidatos à conquista da segunda vaga para os 1\16 de final, ainda que numa luta interessante com México e Camarões.

A Croácia que volta aos Mundiais depois do falhanço de 2006 (eliminada na fase de grupos pela Austrália). No país sonha-se com o feito de 98 (medalha de bronze), uma missão quase impossível embora esta geração seja de muita qualidade. Na baliza estava Ladic, símbolo do Dínamo de Zagreb, era a sua passagem de testemunho para um miúdo que despontava na melhor fábrica de guarda-redes do país, o Hadjuk Split.

Era Pletikosa, Stipe Pletikosa. Agarrara um lugar que ainda lhe pertencerá no Brasil. Os anos de ouro já voaram mas ainda é o melhor guarda-redes croata no activo (e de sempre) além da capacidade de liderança que possui. É o homem que liga o factor emocional ao jogo jogado. Incentiva os companheiros a cada lance disputado e festeja efusivamente defesas que valem menos um golo sofrido. Joga fora dos postes, lê bem o jogo e quando a bola cai nas costas da defesa aparece quase a funcionar como um libero que varre o lance e por vezes deixa a bola jogável. É instintivo, ainda que se posicione bem, na hora de mostrar o que vale entre os postes são os reflexos fáceis que lhe conferem notoriedade. Encurta bem o ângulo de visão do adversário, passo a passo, quase que se atira aos pés do avançado nas manchas e oferece o corpo às bolas. Está a realizar uma boa temporada no Rostov, carregado de jogo e a um nível médio-alto.

Da fábrica do Hadjuk chegam também os outros prováveis guarda-redes seleccionados. Embora Subasic não seja da formação (cresceu na equipa da terra, o Zadar) foi lá que se mostrou a Dmitry Rybolovlev, presidente do Mónaco, e transfigurou a sua carreira. Ainda que esteja a um nível alto pelo Mónaco continuará a ser o nº2 na hierarquia. Foi assim com Stimac em toda a qualificação e também com Niko Kovac no play-off. Uma segunda opção que dá garantias imediatas em caso de emergência, sobretudo pela globalidade das suas características. Privilegia o posicionamento e segurança nas acções, está sempre por dentro do jogo tal a sua concentração competitiva. Ao contrário de Pletikosa, vive mais dentro dos postes e espera pela acção do adversário. Não é muito elástico, não é o salvador que faz defesas incríveis mas é alguém que permite à equipa ter estabilidade, prefere resolver o lance com uma palmada para fora do que executar um voo fotogénico. Tem uma capacidade razoável no jogo com os pés, bate forte à distância.

A terceira vaga será ocupada por Kalinic, o gigante de 2.01m, habitual titular do Hadjuk Split. Guarda-redes promissor, leva vantagem em relação a Kresic – chamado durante (quase) toda a qualificação mas tapado por Karius (enorme qualidade\potencial) no Mainz – e Vargic, habitante da Liga croata (HNK Rijeka), convocado apenas duas vezes durante a qualificação. Aos 24 anos, Kalinic dá nas vistas e inclusive tem meia Premier League atrás dele. Muito difícil de bater por cima, enche os ângulos superiores com uns braços enormes e voa facilmente. Seguro no espaço aéreo, sai dos postes e intercepta a bola com facilidade usando a imponência física. Revela alguma precipitação no jogo de pés se for pressionado, sobretudo quando a bola é endereçada para o pé mais fraco (esquerdo). Falta-lhe cola nas luvas, ainda larga algumas bolas. Grande margem de progressão, necessita de continuar a jogar para chegar a um nível alto.

Na sua 4ª participação em Mundiais, não será pela baliza que a Croácia vai fracassar de novo. Aos 35 anos, Pletikosa participa na última batalha internacional deixando guerra aberta para Subasic e Kalinic (se ingressar na Premier League será o titular a breve prazo) durante alguns anos. Isto, se dos 221 456 habitantes de Split não aparecer mais nenhum voador com estofo.

- Paulo Freitas




"ORTODOXOS? NUNCA!"
(Camarões, 10 Abril 2014)
A escola africana de guarda-redes praticamente se manteve inalterada com o passar dos anos nos seus ideais mais marcantes. Em termos técnicos sempre foram bons mas faltava sempre a parte psicológica. Esta vertente tem sido evoluída nos últimos tempos com a chegada de guarda-redes à Europa provando ser uma escola com um potencial tremendo e com muito a dar ao futebol mundial. Sempre imaginamos os guarda-redes africanos como sendo muito exorbitantes nas suas acções e por vezes quando tentam embelezar não têm a mesma eficácia, mas têm muito para dar. Apesar disto, serem pouco ortodoxos até lhes favorece. Apostam geralmente na eficácia das suas acções, de maneira a não dar golo, seja de que maneira for.

Os Camarões, como selecção, apesar de grandes nomes no ataque, apresenta-se como uma equipa desequilibrada em qualidade. Se tem muitos e bons nomes para a frente de ataque de onde se destacam Eto’o e Webo, na defesa só Song é que mostra qualidade. É uma selecção em processo de mudança, e prova disso é a aposta em Finke, treinador alemão muito rodado e experiente. Tem trabalhado o posicionamento defensivo e os momentos de equilíbrio no jogo, adoptando portanto um estilo mais europeu. É uma equipa que tem melhorado com o treinador, mas não o suficiente para lutar claramente pela passagem aos 16avos de final. Vai correr por fora, sem nunca perder de vista o seu processo de desenvolvimento.

Sobre os guarda-redes convocáveis, não sairá muito destes três: Itandje, Kameni, Assembé. São todos muito idênticos, seja a nível técnico seja em maturidade. Representam todos clubes medianos nas suas carreiras e não estão a atravessar dos melhores momentos da sua carreira a nível de clubes. Kameni só tem 90’ na Copa do Rey pelo Málaga, Itandje é o guarda-redes juntamente com Frey com mais golos sofridos no campeonato turco, e Assembé divide a titularidade com o senegalês Samassa, tendo perdido para este esse posto em Fevereiro depois de 19 jogos seguidos. Têm todos qualidade, mas vivem tempos complicados apesar dos motivos serem diferentes.

Itandje, assumirá as redes da selecção dos Camarões. É totalista no seu campeonato, e só tem um registo negativo de golos sofridos no clube por ser de gama baixa dentro do campeonato turco (Konyaspor). Será o titular de acordo com os sinais dados pelo treinador alemão, que vê-se “obrigado” em abdicar do experiente Kameni por não ter minutos de jogo esta época. Itandje, apesar de tudo o que vive e tendo em conta uma defesa em construção nos Camarões, até tem safado a equipa em momentos complicados. Conta com 7 internacionalizações neste momento. Confia muito em si dentro dos postes e raramente avança para além desse espaço, é audaz, rápido, e mexe-se bem também na sua zona de conforto. Já nas alturas, complica-se e não é tão seguro. Dos jogos que consegui acompanhar dele na selecção, vai sofrer muito nos momentos de desconcentração da defesa africana.

Kameni, o veterano camaronês, desde que saiu do Espanhol de Barcelona, caiu a pique. Nunca mais foi o mesmo e encontrou em Málaga Willy, que tem-se mostrado como dos melhores guarda-redes a actuar na Liga Espanhola. Conta com 70 internacionalizações, algumas grandes provas jogadas, mas apesar de toda a sua qualidade não joga no clube e isso inviabiliza qualquer chamada à baliza da selecção. Era sem duvida o guarda-redes mais técnico e completo dos três.

Por seu turno, Assembé é o menos “europeu” de todos. Tem ainda a escola africana. Representa de momento o Guingamp, clube francês. É muito eficaz, mas faz tudo de uma forma muito pouco técnica. É rápido, tem reflexos mas pouco seguro e coerente. É o chamado guarda-redes de “engate”. É aquele guarda-redes que num jogo mais apertado, é capaz de defender tudo se iniciar bem o encontro. Não é opção credível para as redes da selecção, apenas para 3ºguarda-redes.

Com isto, e tendo em conta uma defesa a ser trabalhada da selecção, o guarda-redes está num nível superior à mesma e não será por aí que virá o teórico insucesso da equipa. Costuma ser mesmo o mais esclarecido dentro da quadra, e até pode vir a salvar a equipa de algumas humilhações. É selecção para ficar pela fase de grupos, sem incomodar muito as outras três selecções.

- Gonçalo Xavier



"Mano a mano até ao fim pelas redes do México"
(México, 14 Abril 2014)
A história longínqua diria que Ochoa seria o titular indiscutível no Brasil mas foi Corona o motorista da camioneta que abasteceu a viagem até um dos países vizinhos. Ainda que a carrinha seja de ligeiros (são reduzidas as hipóteses do México) ambos querem deitar as mãos ao volante.

Miguel Herrera, seleccionador do México, tem uma daquelas boas dores de cabeça. Embora Jesús Corona tenha sido o homem da sua confiança até aqui (10 jogos na qualificação), a qualidade de Guillermo Ochoa alineada às 56 internacionalizações (contra 18 do guarda-redes do Cruz Azul) pode pesar na escolha do nº1.

Se o primeiro é o rosto da tranquilidade, o homem que abafa as dores da equipa e não treme nos momentos decisivos, o segundo é a excentricidade, capaz de voar numa vassoura e defender bolas impossíveis mas no momento seguinte falhar o timing de uma saída e condenar a equipa.

Ochoa era até há bem pouco tempo o rei das redes mexicanas. Um retrocesso das suas capacidades, melhor, a estagnação da sua margem de progressão retirou-lhe a coroa aos poucos. Ainda não cabe na cabeça de Jesús Corona, até porque não é nenhum milagreiro mas é o homem que dá mais segurança a Herrera para entrar no Mundial. Para isso contribui o seu bom posicionamento, lê bem o jogo e gere com nota alta os tempos de saída. Ágil, sem os reflexos de Ochoa, mas com dificuldade para ser batido nos ângulos inferiores sobretudo. Cai muito rápido para um dos lados. A juntar a tudo isto, está a realizar uma época fenomenal no cruz Azul, líder da Liga Mexicana. Leva assim uma vantagem (curta) sobre Ochoa que intercala entre as grandes exibições e erros que custam pontos no Ajaccio.

O prémio da 3ª chamada ao Mundial será para Talavera. Vai conhecer o Brasil e funcionar um pouco como adjunto do treinador de guarda-redes. Muitos furos abaixo dos restantes, não é nunca foi um guarda-redes de grande nível. Ainda assim, tem estado bem no Toluca. Acumula boas exibições, está mais disponível para o jogo e mais solto fora dos postes. Muito forte nas saídas, impõe-se nas acções de cruzamento, não tão forte quando tem de ser a figura do jogo. É merecida a viagem.

Com o trampolim de Ochoa avariado, o México deixou de ter grandes guarda-redes (a menos que se transcenda no Mundial). Corona dá garantias mas… a ver vamos.

- Paulo Freitas


GRUPO B ( Espanha, Chile, Holanda, Australia)



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